Circuito dos Cristais, inaugurado neste final de semana em Curvelo, é realmente um marco histórico para o automobilismo de Minas Gerais, mas os organizadores precisam fazer uma ‘mea culpa’, comemorar o que deu certo sim, mas refletir sobre o que deu errado, sobretudo na questão de segurança na área dos boxes.

VIPs na grade que separa os boxes da pista: segurança em cheque

VIPs lotam a grade que separa os boxes da pista: segurança em cheque no Circuito dos Cristais, em Curvelo

Imagino que os responsáveis pelo Circuito dos Cristais devem se reunir nesta semana para lavar a roupa suja, no bom e no mal sentido. Passada a primeira etapa e inauguração da pista, neste final de semana, com provas de carros e motos,  é o momento de analisar o que deu certo e refletir sobre o que deu errado.
Tudo bem que este era o sonho dos mineiros – um autódromo. E a pista ficou show mesmo, com padrão internacional, traçado seletivo, competitivo, do jeito que os pilotos gostam – seguro. Esta aí uma palavra que ficou aquém do imaginado: a segurança na área dos boxes, o Paddock.
Impressionou-me a quantidade de gente “credenciada” na área do Paddock, circulando livremente entre as motos e carros, antes, durante, depois, toda hora. Antes das largadas, aquele monte de gente se aglomerava na grade que separa a pista do interior do boxe. O que foi aquilo, minha gente? VIPs podem sim ter acesso a esta área, mas em momentos específicos, nos intervalos das provas e guiados por promotores, sempre sob a vigilância dos seguranças. Assim é que acontece nas competições oficiais (Stock Car, Fórmula Truck até na Fórmula 1).

Convidados e pilotos, juntos no boxe

Convidados e pilotos, juntos no boxe: o correto seria horário específicos nos intervalos para visita às equipes

Pais irresponsáveis com crianças mínimas fazendo selfies quase que no meio da pista à vontade; casais desfilando em qualquer lugar! Ora, ora. Fiquei pensando se acontecesse algum incidente – felizmente não ocorreu.  Seria um problemão.
Com certeza a pista seria interditada, a pedido do Ministério Público ou qualquer paladino da justiça. Eles teriam argumentos de sobra para tal: fotos, imagens e o próprio Boletim de Ocorrência da Polícia Militar que, aliás, estava lá, para todo lado, e simplesmente não se manifestou sobre o perigo.
Seguranças despreparados não barravam ninguém. Um amigo, que encontrei lá, me disse que entrou com seu carro e estacionou dentro dos boxes. “Ninguém me perguntou nada e, então, fui entrando”, disse.
A segurança não foi (ou é) o único problema do Circuito dos Cristais – embora seja a principal.  A organização pecou em coisas simples, como a sinalização para se chegar à pista. Para quem vinha de BH não havia uma só faixa sequer, aquelas provisórias mesmo, indicando o caminho. Elas só apareceram nas imediações do complexo.
Pareceu que nem mesmo as pessoas da cidade de Curvelo foram avisadas daquele grande e importante evento que ali aconteceria. Veja o diálogo – aconteceu comigo:

– Por favor, senhor. Sabe onde fica o autódromo? – perguntei, depois de rodar em círculos pela simpática cidade.
– Sítio do Totó? – respondeu o meu interlocutor.
– Deixa pra lá, obrigado senhor – saí em busca de um melhor informante.

Com relação à alimentação, tudo bem que para a estreia a estrutura montada atendeu de forma apenas razoável em decorrência do público. Mas, para um evento maior, como uma etapa da Stock Car, tem que melhorar bastante, principalmente na questão das opções e variedades.
Os responsáveis pelo Circuito dos Cristais precisam entender que o sucesso só será alcançado se as provas tiverem público e, por isso, ele precisa ser bem avisado, indicado, levado pela mão.
Não estou nem levando em consideração que há muitas construções e estruturas provisórias. As estradas de acesso ainda são de terra, as áreas de escape dentro do circuito também – precisa urgente de grama ou brita, pois o poeirão vermelho pode causar algo inesperado e não muito favorável.
Mas o Circuito dos Cristais é um sonho que se realizou. Os idealizadores estão de parabéns, fizeram algo que se tenta há muitos e muitos anos. Lembro, no final dos anos 90, por ocasião do lançamento da pedra fundamental do autódromo de Minas, na região de Betim. Teria patrocínio da Fiat, dinheiro público (na época Newton Cardoso era o governador) e apoio da Confederação Brasileira de Automobilismo. Ao conversar com Toninho da Mata, piloto mineiro multicampeão, sobre a expectativa da pista, ele disse: “Já comi tanta empadinha em festa de lançamento de autódromo em Minas, que já estou com azia”.
A indisposição do nobre amigo continuou por muito tempo e nada. Somente agora, quase 30 anos, o projeto virou realidade. Espero muito que tudo dê certo, que seja um sucesso e estes comentários são para provocar sim, mas com o intuito de ajudar, de construir, de fazer olhar para frente e ver algo novo e bom para os mineiros.
Mas a turma precisa ficar atenta. Todo aquele equipamento profissional não merece uma organização tão amadora.
Fotos: L.O.P. e YSports/Divulgação
Texto: Luís Otávio Pires

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