A nova marca chinesa Leapmotor se associou à Stellantis para estrear no mercado brasileiro. A marca aposta em tecnologia inédita e no apoio da Stellantis (dona das marcas Fiat, Jeep, RAM, Peugeot e Citroën) para conquistar espaço entre elétricos e híbridos. SUV C10 é o primeiro modelo a desembarcar por aqui e chega em duas versões: 100% elétrica e Ultra-Híbrida com sistema REEV. Com dimensões menores, o SUV B10 entra em pré-venda para entrega em janeiro de 2026.

O mercado brasileiro ganhou um novo protagonista com a chegada da Leapmotor, marca chinesa de veículos eletrificados que estreia oficialmente no país com apoio total da Stellantis.
As vendas começam com o o C10, um SUV de porte médio-grande que tenta unir conforto, tecnologia e eficiência em um pacote eletrificado e relativamente acessível — pelo menos no papel.
Com preços de R$ 189.990 (elétrico) e R$ 199.990 (Ultra-Híbrido REEV), o Leapmotor C10 se apresenta como o primeiro SUV do Brasil com tração exclusivamente elétrica em todas as versões, mesmo na configuração híbrida. A diferença é que, no REEV, o motor a combustão não move as rodas: ele atua apenas como gerador de energia para recarregar a bateria.

O apoio da Stellantis
A Leapmotor não chega sozinha. O plano de expansão global da marca faz parte de uma joint venture com a Stellantis. Esse suporte se traduz em 36 concessionárias espalhadas por 29 cidades brasileiras, assistência técnica dentro da estrutura das marcas do grupo e um pós-venda integrado com peças Mopar e revisões a preço fixo.
É um diferencial importante num segmento onde muitas marcas chinesas patinam justamente por falta de rede e suporte local. Mas o desafio da Leapmotor é outro: criar identidade de marca em meio ao avanço de rivais consolidadas, como BYD, GWM e Chery, que já disputam o público interessado em eletrificados com modelos de forte apelo e rede estabelecida.

“É o início de uma nova era”, resumiu Fernando Varela, vice-presidente da Leapmotor para a América do Sul. A promessa é de estratégia de longo prazo, com novos lançamentos — entre eles o SUV médio B10, previsto para 2026 — e um portfólio 100% eletrificado.
Pacote tecnológico do C10
Visualmente, o C10 aposta em proporções generosas (4,74 m de comprimento e 2,82 m de entre-eixos) e um design limpo, quase minimalista. O interior segue a tendência minimalista e high-tech das marcas chinesas: painel dominado por uma tela central de 14,6 polegadas, comandos digitais, iluminação ambiente configurável e uso extenso de materiais macios.

A lista de equipamentos é extensa: sete airbags, pacote de condução semiautônoma Leap Pilot, bancos dianteiros com ventilação e aquecimento, chave digital via smartphone e até modo descanso, que reclina o banco do motorista e cria uma ambientação relaxante com som e iluminação ajustados.
Em termos de desempenho, ambos os C10 têm tração traseira e motor elétrico síncrono de 215 a 218 cv, com 32,6 kgfm de torque. As baterias LFP são refrigeradas a líquido e compatíveis com recarga rápida de 30% a 80% em 18 minutos. O destaque técnico, no entanto, é o sistema REEV, que promete combinar a condução 100% elétrica com a liberdade de reabastecer com gasolina quando necessário.

Entre o elétrico e o híbrido
A tecnologia REEV (Range Extended Electric Vehicle) não é inédita no mundo, mas ainda é rara no Brasil. Em essência, ela funciona como um gerador portátil sobre rodas: o motor a combustão serve apenas para recarregar a bateria e alimentar o motor elétrico, sem tração direta.
Na teoria, isso elimina as transições incômodas entre os motores — um problema comum em híbridos convencionais — e mantém o conforto e a linearidade da tração elétrica. Na prática, porém, o sistema ainda desperta dúvidas sobre eficiência real e custo-benefício.

Percepção de valor
O pacote tecnológico do C10 impressiona, mas o desafio será traduzir sofisticação em confiança. O consumidor brasileiro ainda associa marcas chinesas a produtos acessíveis e de manutenção incerta, um estigma que a BYD e a GWM começam a superar com investimento pesado em marketing, pós-venda e produção local.

Mesmo com o respaldo da Stellantis, a Leapmotor precisará mostrar que não é apenas mais uma promessa chinesa com “app e tela grande”. A estratégia de oferecer um SUV de 4,7 metros por menos de R$ 200 mil é ousada, mas o valor residual e a disponibilidade de peças serão fatores determinantes para seu sucesso.
Outro ponto é a falta de histórico no país: o consumidor médio tende a buscar referências práticas — como autonomia em rodovia, custo real de recarga, integração do software e robustez da eletrônica — que só o uso cotidiano poderá revelar.

Ecossistema completo
A marca chega com o aplicativo Leap+, que promete integrar serviços de recarga (em parceria com WEG, GreenV, Zletric, VoltBras e Ituran) e oferecer recursos como travamento automático, climatização remota e atualização OTA (over-the-air). A proposta é criar um ecossistema digital ao redor do carro, no mesmo estilo de Tesla e BYD, reforçando o discurso de inovação.
O conjunto é convincente, mas ainda precisa provar na prática a eficiência e durabilidade de seus produtos.

Salto promissor
A chegada da Leapmotor marca um novo capítulo na eletrificação nacional, agora com o peso industrial da Stellantis por trás de uma marca chinesa. O C10 tem design moderno, cabine sofisticada e tecnologia de ponta, mas seu sucesso dependerá de confiança, rede e pós-venda, mais do que da ficha técnica.
Texto e fotos: Eduardo Aquino

